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27 April 2018 01:30

Menino Experimental | Sibila

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Menino Experimental Murilo Mendes | 27 mar 2014 | Poemas O menino experimental come as nádegas da avó e atira os ossos ao cachorro. O menino experimental futuro inquisidor devora o livro e soletra o serrote. O menino experimental não anda nas nuvens. Sabe escolher seus objetos. Adora a corda, o revólver, a tesoura, o martelo, o serrote, a torquês. Dança com eles. Conversa-os. O menino experimental ateia fogo ao santuário para testar a competência dos bombeiros. O menino experimental, declarando superado o manual de 1962, corrige o professor de fenomenologia. O menino experimental confessa-se ateu e à toa. O menino experimental é desmamado no primeiro dia. Despreza Rômulo e Remo. Acha a loba uma galinha. No oco do pré natal gritava: “Champanha, mamãe! Depressa!” O menino experimental decreta a alienação de Aristóteles. Expulsa-o da sua zona, com a roupa do corpo e amordaçado. O menino experimental repele as propostas da prima de dezoito anos, chamando-a de bisavó. O menino experimental, escondendo os pincéis do pintor, e trancando-o no vaso sanitário, obriga-o a fundar a pop art, única saída do impasse. O menino experimental ensina a vamp a amar. Dorme com o radar debaixo da cama. O menino experimental, dos animais só admite o tigre e o piloto de bombardeiro. Deixa o cão mesmo feroz e o piloto civil às pulgas. O menino experimental benze o relâmpago. O menino experimental antefilma o acontecimento agressivo, o Apocalipse, fato do dia. O menino experimental festeja seu terceiro aniversário convidando Jean Genet e Sofia Loren para jantar. Espetados na mesa três punhais acesos. O menino experimental despede a televisão, “brinquedo para analfabetos, surdos, mudos, doentes, antinietzsches, padres podres e croulants”. O menino experimental atira uma granada em forma de falo na mãe de Cristovão Colombo, sepultando as Américas. (Publicado originalmente em Poliedro − Roma, 1965/66, Rio de Janeiro, José Olympio, 1972)

27 April 2018 01:15